”Corre senão a mulher morre’’, nunca corri tanto.

Um relato sobre as dificuldades de se ter um médico em João Pinheiro 

A galope pelo cerrado, percorrendo caminhos de trilhos, saltando grotas, mesmo assim era preciso acelerar os passos do animal, mais de cinco horas, só pra vir, mas era a única chance de vida daquela mulher acamada e com incômodo que ninguém sabia o que tinha. 

Ananias Dornelas, em suas memórias eternizadas em entrevista ao Museu de Vozes, conta como era a busca por medicamentos quando alguém adoecia. ‘’Ananias  você vai a cavalo até João Pinheiro falar com seu Astolfo da Farmácia, peça para ele fazer um remédio, diga pra eles os incômodo que ela tá sentindo, mas vai rápido senão ela morre”, que responsabilidade o pai do Sr.: Ananias Dornelas colocava em suas  mãos e ele conseguiu levar o medicamento e a senhora se curou. 

Ananias Dornelas, ano 2011, durante entrevista para o Museu de vozes, a foto refere-se á capa do vídeo em que ele cita o ocorrido na citação do texto. – Autor W. Ney

Na chegada, antes de descer pela principal rua da época, a Barão do Rio branco, deixou o cavalo para descansar com um morador dos Jardins, pegou outro e desceu a galope. 

Na farmácia, ainda ofegante pelo esforço da viagem, relatou os ‘’incômodos ‘’ da paciente, ‘’seu Astolfo então pegou um recipiente de louça, colou um pó, uns líquidos, mexeu e moeu como se faz com o alho para o tempero. Depois colocou num vidro e mandou que ela tomasse três vezes ao dia. Pegou outro que estava pronto, colocou no meu embornal e retornei a galope, nem deu tempo de comprar uma bala e tomar um guaraná. 

Na Canabrava todos me esperavam, sai cedo, cheguei já bem de tarde, mas era ainda a esperança de cura. Passei as orientações como seu Astolfo tinha falado e as recomendações. No outro dia a mulher já estava bem melhor e se curou depois. ‘’Eu me senti naquele dia tão importante quanto uns médicos me esforçaram muito para chegar a tempo, para salvar a veia e deu certo, graças a Deus’’, finalizou seu Ananias.

Esse é um dos inúmeros casos de pessoas doentes no município, que carecia de atendimento público, morava na zona rural, mas não tinham nenhuma opção por lá. 

Capa do documentário sobre as folias de reis de João Pinheiro, em que a historiadora Maria Célia da Silva Gonçalves relata de sua pesquisa sobre a crendice de curas das pessoas através DAE rezas para os Três Reis Santos. — Autor w. Ney

A dificuldade em transportar o paciente fazia com que as consulta e receitas fossem feitas através de um terceiro, e o farmacêutico era o único ‘’ médico prático’’ da época. Merece citar que, na maioria dos casos, o primeiro tratamento era espiritual, em rezas e pedidos de curas aos Três Reis Santos

Ao completar cento e oito anos o município contempla aos seus filhos um sistema de saúde bem diferente deste citado pelo Sr: Ananias na década de 50 do século XX.

Demorou, foi lento, mas parece que agora estamos finalmente amparados num sistema de saúde capaz de atender com humanização.  Além do hospital municipal, agora foi inaugurada uma Unidade de Pronto Atendimento, na área central da cidade, moderna e com mais profissionais a serviço do povo. 

O Atendimento está na zona rural, com posto de saúde e os agentes de programa preventivo da família, sem contar as ambulâncias e duas UTIS para transporte de emergências, o médico vai até o paciente. 

‘’Quem diria!’’, seu Ananias talvez estivesse dizendo isso se estivesse vivo otimista como era, sobre o atendimento a saúde nos dias de hoje. 

Nos idos dos anos setenta, quando tivemos o primeiro hospital particular, as coisas mudaram, passou se a ter um lugar para os nascimentos, antes os partos eram nas casas mesmo, realizados pelas parteiras, e muitas, muitas mesmo, tiveram centenas de crianças nascidas por suas mãos. Que o diga dona Madalena do Zé Casemiro e foram mais de três mil, em suas contas. 

Pela Zona Rural tínhamos as benzedeiros e os raizeiros, pessoas de ambos os sexos, que tinham a prática de benzer e fazer remédios das plantas. Muitos atribuem curas conseguidas por estas pessoas, alguns relatam até ‘’males de deficiência física’’ sendo curados. 

Historiador Welington Ney onde, segundo ele, é o melhor lugar para se curar do estres, a Cachoeira do Garimpo. “Meu consultório semanal”. Autor W. Willian

Neste dia de aniversário dos pinheirenses, que estes relatos sirvam como uma homenagem a estes que, a cavalo, com rezas, plantas ou outro método, dedicaram e ainda dedicam seu tempo em favor do outro, pela cura de enfermidades. E salve Santos Reis!

Escrito por Welington Ney

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8 COMMENTS

  1. 8“ ‘Não farás para ti nenhum ídolo, nenhuma imagem de qualquer coisa no céu, na terra ou nas águas debaixo da terra.9Não te prostrarás diante deles nem lhes prestarás culto, porque eu, o Senhor, o teu Deus, sou Deus zeloso, que castigo os filhos pelo pecado de seus pais até a terceira e quarta geração daqueles que me desprezam,10mas trato com bondade até mil gerações os que me amam e obedecem aos meus mandamentos.

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